O PROJETO EXPEDIÇÃO ITUPARARANGA
A Represa de Itupararanga representa
o maior manancial da região de Sorocaba. Formada por uma bacia de drenagem de 934
Km², esta área vem sofrendo constantes impactos ambientais ao longo dos últimos
anos, o que está refletindo na queda da qualidade de suas águas.
Em que pese uma série de ações que
foram desenvolvidas para tentar garantir a conservação deste manancial, como
estudos, abaixo-assinados, discussões no Comitê da Bacia Hidrográfica dos Rios
Sorocaba e Médio Tietê, criação da APA – Área de Proteção Ambiental de
Itupararanga, Plano de Manejo, entre outros, ainda assim, pouco se viu de
concreto em resultados positivos para a qualidade ambiental de Itupararanga. Ao
contrário do que deveria se esperar, estamos vendo sua bacia hidrográfica
recebendo inúmeros novos empreendimentos, a agricultura continua a se
desenvolver de maneira intensa e o tratamento dos esgotos pouco avançou. Assim,
não foi surpresa os resultados apresentados pelo Relatório de Águas Interiores
da CETESB em 2011, que aponta queda na qualidade das águas de Itupararanga.
Como forma de, a partir de um
diagnóstico sobre as condições de conservação da APA – Área de Proteção
Ambiental, propor uma nova onda de mobilização em prol de Itupararanga, e
demonstrar novamente o que já foi apontado como problema lá em 1994, no início
da formação do Comitê da Bacia, é que se propôs a realização do projeto
“EXPEDIÇAO ITUPARARANGA”, realizado por iniciativa do grupo Caturro Navegantes,
UNISO – Universidade de Sorocaba e AVA – Associação Vuturaty Ambiental,
reunidos para, em conjunto, propor uma movimentação regional para salvar este
grande manancial regional que é Itupararanga.
A metodologia utilizada foi pesquisa de caráter exploratório e
descritivo com trabalho de campo realizado através de expedições aquáticas para
coleta de água para análise e avaliação das áreas ciliares; expedições terrestres
para avaliação da vegetação da APA e estado de conservação dos corpos d’água da
bacia.
Os trabalhos foram realizados em três
etapas:
Expedição Aquática - Navegação pelo espelho d’água de Itupararanga e coleta
de água em 6 pontos. Esta água passou por análises básicas, como: OD, DBO, DQO,
nitrogênio, fósforo, alumínio, ferro, nitrato, dureza, cloreto, turbidez, cor,
pH, temperatura e bacteriológica.
Expedição Aquática 2 – Navegação pelas margens da represa, com extensão
avaliada em 192 km, para avaliação do estado de conservação das áreas ciliares,
seus usos e situações de impacto ambiental, com registro por meio de filmagem e
fotografia.
Expedição Terrestre – Foram percorridos por terra diversos pontos da bacia
hidrográfica de Itupararanga, sendo avaliada a vegetação, os usos do solo e as
situações típicas nos seus principais contribuintes e nascentes.
A
REPRESA DE ITUPARARANGA
A represa de Itupararanga
localiza-se nas cabeceiras do rio Sorocaba, formado pela confluência dos rios
Sorocabuçu e Sorocamirim, no município de Ibiúna. A represa está no Planalto
Cristalino na serra de São Francisco, com transição para a Depressão
Periférica. Foi construída pela empresa canadense Light, a partir de 1911,
tendo sua operação se iniciado em 1914. Suas águas banham os municípios de
Ibiúna, Piedade, São Roque, Mairinque, Alumínio e Votorantim.
A barragem está
situada no município de Votorantim, tendo uma queda bruta de 206 metros e 38
metros de altura (equivalente a um prédio de dez andares). Possui
aproximadamente 27 Km² de espelho de água, 26 Km de canal principal e 192 Km de
margens. O volume útil da represa é de 286 milhões de m3, vazão máxima de 39,12
m3/s, com potência instalada de 55 MW e produção média anual de 150 Gwh, que é
utilizada apenas pela CBA – Companhia Brasileira de Alumínio, sendo
administrada pela VE – Votorantim Energia.
O reservatório também é usado para
abastecimento de água dos seguintes municípios, nas seguintes proporções:
Sorocaba - 74% do consumo; Votorantim - 92%; Ibiúna - 100% e São Roque - 32%.
Segundo estudos realizados, recentemente, a represa de Itupararanga
representará, no futuro próximo, a garantia de abastecimento de uma população
de 1.200.000 habitantes. A represa possui múltiplos usos, sendo utilizada prioritariamente
para o abastecimento humano. É também usada como área de lazer e pesca, onde frequentadores
aproveitam para pescar traíras, lambaris, carás e tilápias. Uma parte da água
represada desce via gravidade até a Estação de Tratamento de Água de Sorocaba,
com a finalidade de ser tratada e em seguida abastecer a população. O restante
vai integrar parte do rio e abastecer cidades vizinhas, recebendo em seu
caminho grande carga de esgoto.
A APA DE ITUPARARANGA
É uma Unidade de Conservação de uso
sustentável criada para proteger as águas da bacia da represa de Itupararanga.
As águas dessa represa são muito importantes, pois abastecem 63% da população
dos municípios da bacia do rio Sorocaba, sendo utilizadas também, para geração
de energia elétrica.
A criação e gestão das Unidades de
Conservação – UC tem como alicerce, não apenas a participação dos órgãos
públicos, estados e municípios, mas principalmente as entidades da Sociedade
Civil, que tem a missão precípua de apontar os anseios da população,
acompanhando e redirecionando os trabalhos, com vistas à proteção e recuperação
da região da UC.
Às prefeituras e órgãos do estado
cabem as ações efetivas para que as diretrizes que vierem a ser fixadas no
Plano de Manejo não se tornem letras mortas e sejam refletidas em diretrizes e
normas de uso e ocupação do solo nas várias escalas de competência.
Os atributos protegidos na APA
Itupararanga são os recursos hídricos da bacia de drenagem da Represa de
Itupararanga.
Esta APA foi criada através da Lei
Estadual nº 10.100, de 1º de dezembro de 1998, por uma demanda do Comitê da
Bacia Hidrográfica dos rios Sorocaba e Médio Tietê, para assegurar a manutenção
da qualidade das águas do manancial da represa, tão importante para a região.
Em 2003, a Lei Estadual 11.579 de 12 de março de 2003 ampliou sua área a fim de
abranger toda a bacia hidrográfica da represa. O perímetro engloba uma área de
cerca de 934 Km².
A gestão da APA é feita pela
Secretaria de Estado do Meio Ambiente de forma compartilhada com os demais
órgãos governamentais do Estado, os representantes das prefeituras municipais e
com a participação da sociedade civil, por meio do Conselho Gestor.
O Conselho Gestor identifica os
principais problemas da região, indica as áreas importantes para preservação,
acompanha a elaboração do Plano de Manejo e apóia a implantação dos programas
de ação.
O conselho Gestor da APA de
Itupararanga é formado por representantes das seguintes secretarias do Governo
do Estado: Meio Ambiente; Agricultura e Abastecimento; Saúde; Energia, Recursos
Hídricos e Saneamento; Educação; Ciência e Tecnologia. Pelas prefeituras
municipais de Votorantim, Sorocaba, Ibiúna, Mairinque, Vargem Grande Paulista,
São Roque, Cotia, Alumínio e Piedade. Os representantes da sociedade civil organizada
são eleitos em biênios, com a escolha de entidades que atuam na defesa
ambiental.
O Plano de Manejo é o documento
técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais da Unidade de
Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o
uso da área e o manejo dos recursos naturais. A APA teve seu primeiro Plano de
Manejo elaborado através de um processo participativo e foi apresentado em
janeiro de 2010 e aprovado pelo CONSEMA – Conselho Estadual de Meio Ambiente
através da Deliberação 16/2010, sendo um dos primeiros Planos de APA do Estado
de São Paulo.
DIAGNÓSTICO
No entorno da represa há intenso uso agrícola,
constando basicamente de pequenos e médios proprietários que cultivam morango,
repolho, cebola, batata e tomate, sem adoção de boas práticas agrícolas. A
irrigação é feita através da captação de águas da represa muitas vezes
irregularmente. Existem também áreas de atividade pecuária.
As margens também estão sendo
amplamente ocupadas por empreendimentos imobiliários como chácaras e casas de
veraneio, em muitos casos com ocupação desordenada. Nota-se que a vegetação
está degradada, em consequência da implantação desses loteamentos. Existem
áreas em que o solo foi muito degradado, resultando em campos sujos sem
recuperação da mata secundária.
Por outro lado, o que é extremamente
positivo, podemos observar ainda extensos trechos de matas ciliares preservadas
compostas por vegetação secundária. Apesar de serem, em sua maioria,
constituídas de estreitas franjas exclusivamente dentro do que eram as Áreas de
Preservação Permanente (APP) do antigo Código Florestal. Existem ainda algumas
áreas de reflorestamento recente com espécies nativas. Em muitos pontos, atrás
das APPs, avista-se extensas áreas de reflorestamento comercial de eucaliptos.
Outra ação degradadora do ecossistema
é a pesca predatória com a utilização de petrechos proibidos, o que também
compromete a fauna e a flora locais.
Em muitos pontos pose-se observar a
eutrofização das águas, com a proliferação excessiva de algas devido à presença
em quantidade anormal de nitrogênio, fósforo e potássio, provavelmente com
origem nos esgotos e fertilizantes.
Quanto à qualidade das águas se
utilizando o IQA - Índice de Qualidade das Águas, utilizado para avaliar a água
para o abastecimento público, índice composto pelos parâmetros: Temperatura,
pH, Oxigênio Dissolvido, Demanda Bioquímica de Oxigênio, Coliformes
Termotolerantes, Nitrogênio Total, Fósforo Total, Sólidos Totais e Turbidez, a
média dos resultados ainda fica entre boa e ótima.
Já com a utilização do IVA – Índice
de Qualidade de Água para a Proteção da Vida Aquática, índice que leva em
consideração a presença e concentração de contaminates químicos tóxicos e também do grau de trofia do reservatório, e
é obtido com base nos seguintes parâmetros: Oxigênio Dissolvido, pH,
ensaio Ecotoxicológico com Ceriodaphinia dubia, Cobre, Zinco,
Chumbo, Cromo, Mecurio, Níquel, Cádmio,
Surfactantes, Clorofila a e Fósforo Total, a média dos resultados cai para
regular e ruim.
Segundo Elzo Savella, um dos
coordenadores do projeto: “Podemos concluir que a conservação do entorno da
represa e a qualidade de suas águas ainda é boa. Porém o avanço das agressões
observadas e o aumento da degradação podem comprometer no futuro próximo o
abastecimento de uma população de 1.200.000 pessoas. Torna-se, portanto
necessária a mobilização da sociedade na luta pela conservação da APA de
Itupararanga e da represa, exigindo do Poder Público, principalmente estadual e
municipal, novas e efetivas políticas públicas de recursos hídricos e
conservação ambiental”.
O projeto teve
patrocínio da empresa Águas de Votorantim, do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias
de Papel, Papelão, Cortiça de Sorocaba e HB Soluções Ltda - Laboratório de
Águas e Efluentes. A coordenação foi do Dr. Nobel Penteado de Freitas da UNISO,
Pedro Almenara do Grupo Caturro Navegantes e Elzo Savella da AVA- Associação
Vuturaty Ambiental.